Pela marginal
Num dos dias entre os
dois feriados anteriores, eu e o meu marido, de férias nessa altura, resolvemos
sair de casa para um passeio a pé junto à marginal. Num local, mais
precisamente num banco público, estava reunido um grupo de homens com idade de
serem avós, e um deles apontou com desdém na nossa direção e disse: “daqui a
dez anos esta malta tem cidadania portuguesa.” Tive vontade de lhe responder
que já a tenho há mais de quarenta anos, mas segui, preferi deixá-lo na
ignorância onde provavelmente se sente bem. Sendo portuguesa, vivi uma situação
que muitos emigrantes devem viver diariamente.
Há pouco, o nosso
presidente da república Marcelo Rebelo de Sousa, durante uma refeição, afirmou
que os “orientais são lentos” referindo-se ao português António Costa, anterior
primeiro-ministro. É isto que se tem visto, ouvido, comentários sem ponta de
razão, de lógica, de respeito pelo outro ou por uma nacionalidade, seja ela
qual for, até a portuguesa.
A xenofobia, a obsessão
pelo que o outro é ou deixa de ser, está a cegar de tal forma as pessoas
fazendo-as sentir desprezo não só pelos emigrantes como pelos portugueses em
geral. Pelo menos não há descriminação no alvo da estupidez, embora os
estúpidos pensem que sim.
Ana Gil Campos
(próximo texto no dia 24 de maio)
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