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Café no shopping

  Desculpa por ter marcado este café no shopping, mas precisava de comprar roupa interior, desde a cabeça aos pés. Agora, para mim, comprar roupa, calçado, o que quer que seja, é uma questão prática. Se preciso, compro, e compro logo em quantidade para não ter de voltar a sair de casa para comprar o mesmo tipo de coisa tão cedo, talvez no próximo ano, ou no seguinte, ou até mais tarde, quando os sapatos já têm mau aspeto, a roupa interior perdeu a elasticidade, as camisolas perderam a cor, as calças estão rompidas. Gosto deste café, é fácil esquecer-me que estamos dentro de um lugar tão artificial como um shopping. Há pessoas a lerem livros físicos, há coisa mais bela do que ver alguém que estando aqui viaja mesmo à nossa frente? A serenidade que transmite, o mistério, as pausas do olhar em frente, os gestos suaves da mão a virar a página. Outros trabalham no portátil, olha, estão quatro neste momento. Já usei muito este café para trabalhar quando vivia em São Paulo. É verdade, senta

Torrada

  Sempre que posso venho a sítios como este. Sempre que se marque um café farei para que seja em sítios assim, rodeados de plantas. Sei que é um apelo inconsciente do animal que somos, que nos leva para dentro da natureza, para casa. De onde veio a ideia irracional de nos racionalizar ao ponto de nos acharmos à parte do nosso próprio mundo? — Achas belo? Isto à nossa volta — pergunto-te. — Este é um dos meus cafés preferidos. O que achas mais belo, estas plantas verdes por toda a parte, vasos de folhas longas, pequenas, suculentas, hirtas, moles, vivas, muito vivas, ou o cimento da estrada que passa ao lado deste vidro com árvores escassas a cada cinquenta metros pelo passeio? — Também precisamos das estradas. — Não estou a falar de praticidade, estou a falar de beleza. Chega a torrada à mesa assim como a tisana de abacaxi e gengibre que tínhamos pedido. — A torrada está queimada — dizes ao empregado. — Não, isso é manteiga — responde ele. — Não, isso é queimado, aliás, a

Livro Amanhã Será um Dia de Sol

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Amanhã Será um Dia de Sol trata-se de um livro comemorativo dos 15 anos de publicações. Reúne poesia, contos, desenhos e fotografias da minha autoria e selecionados por mim. É uma edição numerada e limitada a 100 exemplares. (Nota: o fundo da capa é branco e as letras são da cor verde escuro. A imagem não transmite as cores reais.)   Como comprar: Através do email  acgcampos@gmail.com  ou través de mensagem pelas redes socias (os pagamentos podem ser efetuados por transferência bancária ou por MB WAY – 16 euros cada exemplar).   Muito obrigada, são 15 anos de escrita, são 15 anos de existência para além de mim.  

Jogo do galo

  Tantas pessoas pelas praias e nós aqui. Desculpa o encontro ser neste bar, mas tenho aproveitado as tardes desta semana para trabalhar nesta biblioteca. É uma questão de logística. Olha para o tampo de madeira desta mesa redonda. Tem riscadas duas linhas paralelas perpendiculares a outras duas linhas paralelas. Podemos jogar o jogo do galo aqui, queres? Vou usar moedas de um cêntimo. Aqui o café custa 99 cêntimos, tenho juntado o troco de um euro todas as tardes. Há um copo mesmo em frente ao nariz de quem paga o consumo, ali, no balcão, junto à caixa, num convite implícito para deixar o troco. Mas deixar gorjeta de um cêntimo é deselegante, para além de incoerente se são os clientes que levam as tralhas para a mesa e as deixam no balcão à saída. Não te parece? Merecemos o próprio troco. Que peça vais usar para ti? Para o jogo do galo, já guardo na mão três moedas de um cêntimo. Sabes o que poderias fazer antes de começarmos a jogar? Desligar as máquinas atrás do balcão, é só puxar

Entre ruas

      Cheguei até aqui por outro caminho, um caminho novo para mim. Deixei-me levar pelos pés, concentrada nos meus pensamentos, isto é, perdi-me, fiquei sem saber em que rua estava. Passei sob árvores gigantes que se unem à altura do quarto andar entre edifícios, passei por um café comprido, parecia um túnel de mesas e cadeiras, mais à frente, o perfume das frutas de uma frutaria chegava ao passeio, passei por ruas pelas quais nunca tinha passado, com certeza tão íntimas de quem as conhece. É nestas alturas em que percebo que a minha falta de orientação afinal não é um defeito, é uma dádiva. Caso contrário, passaria pelas mesmas ruas de sempre, cruzar-me-ia pelas mesmas pessoas, tudo ficaria pelo mesmo e raramente encontraria o novo, o desconhecido para mim. Agora, numa esplanada que recebe bem pessoas como eu, que procuram uma mesa emprestada para trabalhar em troca de uma água e de um café, releio capítulos escritos por mim.     Escuto a música que aqui passa e o som constante da

Encontro marcado

  “Encontro no café” foi algo recorrente aqui no blogue, ou tem sido. Fui escrevendo estes textos com intervalos, mas acabo por voltar sempre a eles, um encontro marcado com quem me lê, como se estivéssemos juntos, sentados lado a lado na mesma mesa, em conversa serena. Vamos voltar a estes encontros? Tenho muita vontade. Escrevo isto sentada numa das mesas do bar de Serralves, tive de vir até aqui tratar de um assunto. Então, fica assim combinado, daqui a três semanas estaremos aqui, neste ou noutro café, numa conversa imaginada.

Livro comemorativo

  Esta semana comecei a preparar o livro que para já intitulei como “10 anos”, terá outro título que ainda não sei. Digo que comemoro dez anos de publicações de romances, mas comecei a publicar textos da minha autoria em 2009 com a escrita de textos de opinião/reflexões para o site do jornal Expresso, ao longo de cinco anos. Paralelamente, escrevi para o meu blogue pessoal que criei pouco tempo depois e que mantenho até hoje. Por isso, reúno material escrito há 15 anos. Será então o livro dos 15 anos em vez dos 10 anos, pois pretendo incluir material anterior a 2014, ano em que publiquei o meu primeiro romance, A Segunda Pele da Acácia Mimosa. A maior parte do que escrevi ficará de fora, por enquanto, seria impossível publicar tudo num só livro e, sinceramente, precisaria de ajuda de uma editora para o fazer. Tenho textos de todo o tipo, reflexões sobre o ser humano, atualidade, sociedade, textos em registo de diário, contos, poemas, diálogos, enfim, talvez tivessem de ser divididos