Gerações de eleitores
Dados têm apontado para a
tendência dos indivíduos do sexo masculino da geração Z — nascidos entre 1995 e
2010 — se posicionarem politicamente à direita — o que contraria a ideia de
julgarmos que os jovens são mais vanguardistas —, ao contrário das mulheres que
se têm posicionado à esquerda, embora Portugal não seja um caso evidente apesar
da mesma tendência se ter vindo a verificar.
Por que será que os
homens jovens se têm mostrado mais conservadores apoiando líderes autoritários
que lhes parecem fortes e prometem ação, e as mulheres mais progressistas? Tenta-se
encontrar justificação para esta tendência à direita em relação ao género
masculino na perda de referências como a religião, família tradicional,
questões de género e orientação sexual. Mas estas não são questões comuns às
mulheres jovens?
Depois de séculos de opressão e de
desigualdade de direitos, onde as mulheres eram tendencialmente à direita até à
década de 1970, fruto de costumes e hábitos de pensar tradicionais há muito
enraizados, o ensino superior e empregos remunerados permitiram às mulheres
serem civicamente ativas. A inclusão no mercado de trabalho, que era exclusiva
aos homens, tornou-as menos conservadoras e é este o legado das últimas
gerações de mulheres. Dados recentes também apontam às mulheres maior consciência
das descriminações étnicas, de género e orientações sexuais e talvez isso se
deva por terem sido mais propensas, e em muitos países ainda continuam, a
sofrer de descriminação. Talvez se posicionem mais facilmente à esquerda pois,
por pressuposição, dá maiores garantias de liberdade às mulheres e prevalência
dos direitos conquistados, da igualdade de género, condições de trabalho,
igualdade salarial, proteção social e direito de escolha.
Sendo a geração Z
conhecida como nativa digital e tecnologicamente, vive num tempo paralelo ao
virtual e neste espaço não há muito tempo para chamar atenção, para se ser
visto e escutado, por isso, alguns indivíduos, para contrariarem a ansiedade
inerente a isso, aliada à imaturidade — que abarca qualquer idade como também
se pode constatar — digitam comentários extremistas com o objetivo principal de
fomentarem interação. Para além disso, existe uma minoria de influencers ultraconservadores que
comunica com um grande número de homens que talvez tenham receio da perda de
privilégio dos seus antepassados — racial, heterossexual, patriarcal — e,
provavelmente, sem nada que os faça sentirem-se úteis quando não estão a
dormir. Contudo, é importante ter-se em atenção que ninguém é extremista devido
a estes conteúdos nas redes sociais — apesar do carácter de alguns jovens ainda
se encontrar em formação —, apenas se procura no mundo virtual apoio e
confirmação dos próprios valores preexistentes. Como é natural para quem reflete
autonomamente e não segue o caminho do rebanho, este aparente posicionamento
dos homens da geração Z à extrema-direita pode ser apenas temporária e inerente
a ainda não se encontrarem psicologicamente maduros. Mais tarde, o seu
pensamento político pode seguir outra direção, tenhamos esperança, contudo, até
lá talvez possam fazer estragos.
É importante que se
mantenha uma atitude progressista, pois aquilo que um dia se conquistou pode
ser perdido noutro. Quando as pessoas tendem a estar mais confortáveis na
posição que ocupam, tornam-se menos sensíveis àquilo que desconhecem, quando
vivem num ambiente que não foi conquistado por elas, não conseguem imaginar a possibilidade
de lhes ser roubado noutra circunstância que não a atual. Não faz parte da
memória dos jovens portugueses — nem da minha e já tenho uma idade que passa
para lá do que se pode considerar jovem — o Estado Novo, um dos regimes
autoritários mais longos da Europa, onde não existia liberdade de expressão —
provavelmente aquilo que esta geração usufrui mais do que todas as outras — e
se vivia em pobreza, ignorância e atraso no desenvolvimento do país.
Aproximam-se as próximas
eleições legislativas e é importante que as mulheres e os homens de todas as
gerações votem no dia 10 de março, dois dias após o dia internacional da
mulher, data que espero que nos lembre a todos e reforce a importância do uso
de direito de voto que nem sempre existiu.
Ana Gil Campos
(próximo texto no dia 8 de março)
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