Lago da praça
Quando aqui cheguei, na
segunda-feira, à Biblioteca Municipal Florbela Espanca, a primeira coisa que
fiz foi dirigir-me à máquina do café. Fica logo no piso da entrada, ao fundo.
Assim que cheguei a este espaço, olhei para uma mesa e decidi — sem antes imaginar
que seria ali que iria trabalhar — que aquela seria a mesa que iria ocupar
todas as manhãs ao longo desta semana, com vista ampla sobre a praça, sem
ninguém nas outras mesas, um espaço quase secreto, reservado. É verdade que o
barulho das máquinas de café e dispensador de comida fazem aquele barulho dos
frigoríficos antigos, mas digamos que os benefícios superaram este
inconveniente e é como tudo, uma questão de hábito.
Foi este espaço que
ocupei, onde me sentei a escrever, numa mesa encostada à larga janela, durante
uma semana em que, por questões práticas, tive de me deslocar ao centro de
Matosinhos todas as manhãs. Às 9 horas já cá me encontrava, e observava levemente
os funcionários da câmara a limparem o lago da praça, uns atiravam água aos
desejos brancos das gaivotas com um apanhador, outro, em seguida, esfregava-os
com uma escova de cabo alto, outros de galochas e calças impermeáveis limpavam
a água com uma rede: penas, folhas das árvores, uma grande e pesada gaivota
falecida por ali. Todas as manhãs fazem o mesmo trabalho, à mesma hora, os
mesmos homens. Pelas 10 horas, a água parece límpida; pelas 10h30, as gaivotas
começam a bebericar a água das bermas, a darem passeios pela margem, à volta do
lado, quem sabe, em considerações sobre o estado da vida.
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