Agosto

 

Pela primeira vez desde há vários anos, vivi o mês de agosto em plenitude, sem desejar que acabasse o mais depressa possível. Como agosto me aborrecia, me parecia tolamente longo. Este ano também me pareceu longo, mas deixei espreguiçar-me nele, como se não tivesse outra hipótese, como se o corpo contrariasse qualquer outro plano que pudesse ter. Parecia nunca mais acabar, semana após semana, teve espaço para duas luas cheias, houve dias de chuva, de muito vento, mas também houve fins de tarde em mergulhos no mar quando já não havia praticamente ninguém na praia, o pôr do sol aos pés, a serenidade absoluta. Neste mês tive espaço para ser, para mais descobertas sobre quem sou e o que é a vida senão a descoberta eterna de quem somos se nos deixarmos ser ao mesmo tempo que deixamos de ser?

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