Casa de banho

 

Entrar numa casa de banho pública, de um museu ou de um shopping, escolher a porta cuja sanita me parece, a olho nu, limpa, entrar, fechar o trinco, pendurar a bolsa e o casaco, e perceber que a parede divisória não toca no teto causa-me angústia. A posição vulnerável e não poder controlar o que no meu imaginário de terror poderia acontecer através daquela abertura no teto. Serei eu a única a pensar isto? O pior é quando ouço o trinco de uma das portas, talvez de uma mesmo ao lado da minha. O silêncio. Despacho-me. Lavo a fobia — deverei chamar-lhe assim? — das mãos na água fresca a correr. Quem me causou medo sem saber passa por mim, ignora o lavatório e sai. Que nojo, penso. O dia continua.


Ana Gil Campos

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