Escravatura da imagem
Beleza e a mulher como
sua escrava: escraviza-se ou deixa-se escravizar? Há vários preconceitos sobre
a imagem da mulher, como: se é bela não é inteligente, se não é bela é
inteligente, uma relação direta que revela nenhuma lucidez. Os homens também
sofrem deste preconceito, mas com eles há uma maior benevolência social, o que
não quer dizer que o sejam consigo próprios, mas ajuda. Para os homens há
expressões como “é dos carecas que elas gostam mais”, “o cabelo grisalho nos
homens é charmoso”, e também há um estilo novo sobre o tamanho da barriga e a forma
do corpo em geral chamado dad bod.
Por incrível que pareça, há pessoas que se deram ao trabalho de realizarem
estudos que tentam comprovar estas expressões, provavelmente escritos por quem
tem interesse pessoal na matéria.
Enquanto mulher, já fui
abordada por outras mulheres - e é importante notar que foram mulheres que o
fizeram e refletir sobre isto, sobre a importância de desconstruir padrões de
comportamento e educação -, da minha idade e bastante mais velhas, com a
questão por que não pinto os meus cabelos brancos, provavelmente devido à
formatação inconsciente de como deve ser a imagem de uma mulher, também lhe
podemos chamar lavagem cerebral desde a infância sobre os moldes dos quais não
deve sair em circunstância alguma a aparência das mulheres. Sobre esta questão,
a minha resposta é sempre aquilo que penso sobre este assunto: gosto de ver
cabelos brancos, em mim e nos outros, tenha esta sorte, a capacidade de ver a
beleza no natural, naquilo que é natural em qualquer idade. Quando somos muito
novos, todos os velhos nos parecem iguais, e quando somos mais velhos todos os
jovens nos parecem o mesmo. A perceção dos rostos vai-se alterando, acompanhando
a nossa idade de vida. Gostar da própria beleza em cada fase da nossa vida é
libertador, não nos torna escravos da opinião dos outros, dos estereótipos de
beleza.
Também já comentaram o
meu tom de pele por ser demasiado branco (a profundidade de pensamento de que o
ser humano é capaz), comentário feito por pessoas brancas (julgo ser importante
referir isto, não será uma forma de autorracismo?), chegando a perguntar-me se
uso filtros nas fotografias ou por que não apanho Sol. Enfim, há de facto
comentários absurdos, isentos de qualquer sentido. Todos temos direito ao nosso
sentido de estética, de gostarmos ou não do aspeto de outra pessoa, mas também
devemos ter a sensatez suficiente de não darmos demasiada importância à nossa
própria opinião e de ficarmos calados quando aquilo que pensamos sobre outra
pessoa não se aproxima de um elogio. Não temos o direito de invadir desta
maneira o espaço físico e psicológico de outra pessoa.
Há espaço total para
sermos como somos (novos, velhos, altos, baixos, gordos, magros, bonitos, feios
– seja lá o que isso for) ou como queremos ser (com tatuagens, cabelo de outra
ou outras cores, estilo de vestir…), somos como nascemos, mas também somos como
nos queremos expressar. Podemos ser livres connosco próprios, permitindo-nos
ser belos como podemos e queremos. A escolha faz-se entre estarmos para nós ou
estarmos para os outros.
Ana Gil Campos
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