Ebulição

 

Abri o dicionário à toa e o meu dedo caiu sobre a palavra ebulição, a pele pálida, olheiras fundas, assim me vi nesse dia. Neste momento, não tenho o que escrever sobre esta palavra cheia de vida, de fogo. Sinto-me uma água gelada, quase no ponto oposto da ebulição, a rigidez das minhas moléculas mais próximas do estado da congelação. O cansaço que me habita é semelhante ao que se sente no final de um ano, e este ainda agora começou. Talvez seja devido a umas dores nas costas que me paralisaram durante uns dias e, embora melhor, ainda não sinto as energias a irromperem a partir de mim. Ou talvez tenha sido a baixa energia que me provocou a dor nas costas. Desconfio que seja a segunda hipótese. Mesmo assim, mantenho a esperança de que a energia de um novo ano me invada. O meu aniversário está a chegar, é no dia 22. Talvez o meu novo ano comece nesse dia, não faria mais sentido assim, que o novo ano de cada um começasse no dia do seu próprio aniversário? Faria mais sentido que a partir do dia de cada um a energia da vida nos invadisse com toda a força e bondade que tem por nós e que estivéssemos com o colo aberto para a receber em gratidão.


Ana Gil Campos

*Do caderno A sorte da palavra da palavra à sorte

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