CÂNDIDA (primeiro capítulo) Cândida vive numa cidade como qualquer outra, a periferia um género de desterro de habitações tristes rodeadas por indústrias sombrias cujo ar irrespirável alimenta a maioria que não pode pagar para habitar no centro, um centro frenético de ansiosas buzinas, exasperadas aceleras, travagens bruscas, mas também de erudição notável, cultura sublime, horas de alacridade, beleza das árvores e jardins que suplicam mais poros entre betão. Ela, vista do último andar do edifício mais alto, é um ser minúsculo, praticamente insignificante, um pássaro em correria entre outros que se agitam. Mas os seus olhos tão cobertos de luz fazem com que pareça cega, e a cegueira branca perante a sua própria lucidez faz com que se inquiete com esta ignorância de uma cegueira que não é sua. Sente sem saber sentir que algo não está bem, com ela, com os outros, não sabe, sente apenas uma leve irritação permanente. A jovem mulher poderia ser descrita como soltei...