Conclusão de um estudo
Hoje, o café é cá em casa.
Já é tarde e em vez de café bebo água com sabor a maracujá, foi o que me apeteceu.
De repente, lembro-me de ter ficado uma hora à espera de uma amiga que não
chegou a aparecer, há muitos anos. Nessa altura era adolescente e não existiam
telemóveis. Acabei por me ir embora e, depois de lhe perguntar se tinha
acontecido alguma coisa, respondeu-me que se esqueceu e admirou-se por ter
ficado tanto tempo à sua espera. Só a sua admiração disse tudo, perfeita consciência
de si própria, poderia dizer agora. Mais tarde, mostrou-se ser má amiga —
expressão pueril, ou se é amigo ou não se é, o que não significa ser inimigo —
por um motivo mais sério e foi então que associei uma coisa à outra, ter ficado
à sua espera e a falta de qualidade da sua amizade. Por coincidência, ou não,
houve pelo menos mais duas pessoas que me deixaram à espera intencionalmente,
levando-me a uma conclusão que deve ser tida em conta e que foi feita com base
num estudo com mais ou menos seis amostras: pessoas que nos deixam à espera são
pessoas que não interessam ter por perto.
Ana Gil Campos
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